Publicado originalmente no site Yoga Pela Paz em 25 de abril de 2013. Texto e ilustrações: Fabiana Rodrigues Barbosa
Escrevo este texto mergulhada no aroma do arroz-doce a cozer na panela ao lado. O arroz integral ainda em água fervente com açúcar e canela. Água em precisa quantidade para que se coza bem macio até secar. Posso continuar escrevendo, pois em breve o som da água borbulhando deve tornar-se um pouco mais seco e estalado, me avisando que é hora de desligar o fogo. Neste momento levanto-me, junto o leite quente e os demais ingredientes, que cozinham até o ponto cremoso. Usei uma receita, mas mesmo sendo minha primeira vez não segui à risca. Criei um pouco, intuindo alguns ajustes para meu próprio paladar e benefício. Volto, sento pra continuar o texto. E me pergunto: estarei eu me transformando naquele abominável arquétipo multitarefas ou simplesmente orquestrando e nutrindo o fértil uso de múltiplas habilidades simultâneas? É sutil a diferença entre as duas atitudes: a primeira invariavelmente causa sufocamento e angústia, já que algo importante do qual fica impossível se dar conta estará provavelmente se perdendo no meio de tanto barulho. A segunda traz o bem-estar das realizações ativas, fluidas e despertas.
A TOTALIDADE É FÉRTIL
O aparentemente simples cozer do arroz-doce torna-se complexo quando percebido com mais atenção. Múltiplas habilidades são ativadas para compor um todo único e harmônico. Memória, intuição, visão, tato, audição, paladar, entre outras que poderíamos citar ao infinito. É claro que o resultado do trabalho pode ter ótimo sabor para alguns, e nem tão agradável a outros, afinalsabor vem de saber, que em cada ser constitui-se de um jeito específico. De qualquer modo, a partir de uma experiência prévia, chega-se a uma vívida e nova quando lança-se mão de uma equilibrada medida entre pulsão criativa e prudência, até que algo potente consolida sua existência no mundo e vai contagiando positivamente com mais vida tudo ao redor.